
Do pó do Deserto à Modernidade Vibrante: Uma releitura do Bracelete de Ahholtep I
No coração do Museu Egípcio do Cairo, repousa um testemunho silencioso de uma era de transformação e poder: O bracelete da rainha Ahhotep I, uma figura fundamental da história do Antigo Egito, vivendo no século XVI a.C. filha, esposa e mãe de faraós que lutaram pela reunificação do Egito após o domínio dos Hyksos, Ahhotep I personificou força, liderança em um período turbulento.
Ao contemplar as linhas e os materiais desse artefato ancestral em contas de ouro formando desenhos de triângulos com contas de lápis-lazúli, cordalina e turquesa, somos transportados para um mundo de rituais, crenças e a majestade de uma civilização milenar. Para mim, como artista e observadora do nosso tempo, esse bracelete transcendeu sua função original como adorno régio.
Ele se tornou um portal para refletir sobre a essência da força feminina através dos séculos.
Foi com essa admiração e essa ponte temporal em mente que embarquei em uma jornada criativa para a segunda edição do Proyecto Denisova na Espanha (2023). O desafio era reinterpretar a aura do bracelete de Ahhotep I para a mulher contemporânea, aquela que define suas próprias regras que navega pela vida com independência e que enfrenta as adversidades com resiliência inabalável.
Minha releitura não buscou uma cópia literal, mas sim uma ressonância com o espírito de Ahhotep I. Imaginei uma mulher moderna, multifacetada que equilibra carreira, paixões e relações com autonomia. Uma mulher que não tem medo de ocupar seu espaço e de expressar sua individualidade.
Assim o novo bracelete nasceu como uma celebração da independência feminina. As formas podem ter se tornado mais fluidas, os materiais talvez incorporem elementos contemporâneos, mas a essência da força e da autoafirmação permanecem intacta.
Talvez as cores vibrantes substituam o brilho austero do ouro antigo, representando a energia e a diversidade do mundo atual. Quem sabe linhas arrojadas e assimétricas simbolizem a quebra de padrões e a liberdade de escolhas.
Cada detalhe da minha releitura é uma homenagem à mulher que não espera ser salva, que constrói seu próprio castelo e empunha suas próprias armas (metafóricas, claro) contra desafios. É um lembrete de que a força feminina não é um conceito novo, mas sim um legado que atravessa a história desde as rainhas do Nilo até as líderes, artistas e empreendedoras dos nossos dias.
Ao apresentar essa peça em 2023 na segunda edição do Proyecto Denisova criei um diálogo entre o passado glorioso e o presente vibrante. Que o espírito indomável de Ahhotep I continue a inspirar mulheres a viverem suas vidas com autenticidade, coragem e convicção de que são as protagonistas de suas próprias histórias. Que esse bracelete moderno seja um símbolo tangível dessa força atemporal que reside em cada mulher.
Peça exposta em 2023 no madridjoya e no museo de arte iberoamericano em Tenerife – Espanha